1. Como começou esse gosto por escrever? Você teve influência de alguém, ou simplesmente bateu a vontade de colocar no papel o que estava na sua mente?
Desde pequena eu gostava de criar histórias na minha cabeça, gostava de ler também... Ninguém na minha família tinha hábito de ler, então eu fazia como podia: lia e relia os paradidáticos do colégio, os meus e do meu irmão, e sempre arrumava um jeito de ir até a biblioteca municipal tentar pescar alguma coisa. Foi só quando completei uns doze anos – e me viciei em Harry Potter e Meg Cabot – que veio na minha cabeça que eu podia fazer aquilo também e lá fui eu correndo passar todas aquelas histórias que guardava na cabeça para o caderninho mais próximo.
2. A Sara não é uma personagem muito convencional que vemos nos livros, ela tem toda uma bagagem bem ruim na vida dela e extravasa isso da pior forma. Como foi a criação da Sara? Ela foi inspirada em alguém, ou simplesmente surgiu das suas ideias, ou foi uma mistura dos dois?
Desde o começo, minha vontade com Tudo o que ela quer era destruir aquela imagem que a gente via em tantos romances por aí: a garota bobinha e inocente que se apaixona pelo bonitão popular e, contra todas as circunstâncias, ele se apaixona por ela também. A gente acaba crescendo com essa fantasia. Esperando que um dia o príncipe encantado acabe se apaixonando perdidamente por você. Eu devo ter acreditado nisso algumas vezes também. E fiquei tantas vezes com a cara no chão que acabei querendo distância de qualquer conto de fadas e parti para uma realidade mais crua. Foi com esse pensamento que a Sara foi se moldando na minha cabeça.
E ela surgiu com muita facilidade. Logo cedo eu já sabia quem era Sara Montezuma, que coisas ela faria, que reações teria... Ela simplesmente chegou e começou a tomar conta da história por conta própria. Na época que comecei a escrever, eu estava em um momento de transição da minha vida. Tinha acabado de sair do colégio e entrado na faculdade. Estava aprendendo a ir atrás do que eu queria, sem me importar que algo pudesse dar errado. Daí veio a Sara. Meio como uma espécie de guia espiritual maluca, que me mandava ignorar as convenções sociais e dizia que estava tudo bem se eu quebrasse algumas barreiras vez ou outra.
3. De todos os personagens do livro, eu me apeguei mais ao Gabriel! Tirando a principal, você tem o seu preferido?
O Gabriel é meu bebê. Meu maior desejo é que ele se materialize na minha frente só pra ganhar um abraço bem grande da mamãe coruja. Porque ele tem um coração enorme, mas ainda tem muita coisa pra aprender também. Eu gosto que ele não é perfeito. Ele é orgulhoso, teimoso e atrevido, mas a gente se apaixona mesmo assim.
Agora, se é pra falar de outro personagem, preciso dizer que tenho uma queda gigante pelo Rômulo. Acho que ele é o tipo ideal de bad boy, porque nunca faz nada que seja ‘out of character’. Mesmo quando tem sentimentos, ele não vira nenhum bobão. O Rômulo é o Rômulo na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, no amor e na guerra. Eu amo o jeito completamente blasé e sexy dele tem e fico mega triste que não dei muito espaço para ele na história. O Rômulo é definitivamente um dos personagens que eu sempre sonhei em conhecer melhor, mas o livro já tem 400 páginas do jeito que está, imagine você se minha queda por ele tivesse perdurado por mais tempo.
4. Qual foi a maior dificuldade que você sentiu enquanto você escrevia o livro?
Acho que na época que estava escrevendo, eu ainda não conhecia muito bem meu estilo de escrita. Estava com 18 anos, então tinha começado a perder o interesse nos romances mais bobinhos, que falavam sobre primeiro beijo ou as provas de matemática, mas também não tinha saco para ler nada mais adulto, com mulheres divorciadas, viajando a negócios ou coisa assim. Veja bem, o ano era 2008. O mercado editorial naquela época não era nem um terço tão diversificado quanto é hoje. Eu não tinha muita escolha... Só sabia que estava no meio daqueles dois nichos, então estava tentando descobrir que tipo de história queria ler e que tipo de história queria contar.
Nesse momento de descobertas, eu lia muito e, a cada livro que lia, meu estilo mudava um pouco. Tinha horas que ficava poético demais, outras que ficava irônico demais, ficava dinâmico, ficava dramático, e às vezes eu tinha a sensação de que aquela nem era mais a mesma história. Só depois de muitas revisões, reescritas e anos de prática, que a história foi se transformando em algo que eu sentia que era 100% meu.
5. O cenário do livro é Campos do Jordão. Algum motivo especial por essa escolha de cenário?
Eu tinha escrito duas histórias antes de TQEQ, todas elas se passavam no Ceará, então estava louca pra mudar de cenário, escrever sobre algo bem diferente do que estava acostumada. Eu queria um lugar frio e aconchegante, pra me livrar do clima de sol, calor e praia que tinha usado antes. Daí, basicamente, fui procurando pelas cidades mais altas do Brasil. Adivinha quem ganhou? Dei uma olhada em várias cidades de São Paulo e Minas, mas Campos foi amor à primeira vista.
A ambientação de uma história sempre foi importante na minha escrita. Eu gosto de escrever como se estivesse lá, vendo tudo acontecer, ouvindo o farfalhar das árvores pelo vento frio e sentindo o cheiro de chocolate quente, então sabia que a cidade seria o cenário perfeito. Por causa das casas em estilo europeu, por causa das estações e porque era um lugar badalado que a Sara ia acabar amando e aprontando muito.
A parte mais louca é que, até hoje, nunca estive em Campos. Eu cresci em uma cidade de serra, com neblina, friozinho e cheia de montanhas, então consegui entrar no clima bem rápido, mas foi o Santo Google quem salvou minha vida durante todo esse tempo de pesquisa para criar a Campos de Tudo o que ela quer.
6. O livro é perfeito! Mas que final foi aquele?! E acho que não só eu mas todos que leram o livro tem essa dúvida: Vai ter continuação?
Talvez.
Em primeiro lugar, fico feliz que tenha gostado. Em segundo, ainda é muito cedo pra falar alguma coisa. Desde o começo da história, eu queria esse fim. Queria que fosse exatamente como está e nem cogitava a possibilidade de uma continuação. Mas o tempo passa, e a gente vai se apegando aos personagens. É quase impossível não tentar descobrir o que acontece depois... Eu também queria saber o que ia vir depois na história, tanto que várias ideias foram surgindo na minha cabeça. Tenho algumas coisas anotadas, mas, por enquanto, são só para matar minha curiosidade. Vamos ver o que acontece daqui pra frente, quem sabe um dia vocês também descobrem o que a Sara vai aprontar a seguir.
7. Já tem projetos para escrever outros livros no futuro?
Nossa, vários! No momento estou escrevendo um romance chamando “Não precisa falar de amor”, que se passa no Rio de Janeiro e fala sobre sonhos, moda, celebridades, corações partidos e amizades coloridas. A história tem a mesma atmosfera que TQEQ, daquele jeito um pouco mais saidinho, mas nada muito exagerado. Já me apaixonei pelos personagens e estou super empolgada pra chegar ao final.
O plano é terminar até o fim do ano. A esperança é mesmo a última que morre!
9. Teve algum autor que te inspirou no enredo, ou até no estilo de algum personagem?
Quando publiquei as primeiras cenas no finado Orkut, uma leitora veio me contar que achava a Sara muito parecida com a Scarlett O’Hara, de “E o vento levou”, então fui correndo atrás do livro pra buscar alguma inspiração, então acho que a Scarlett ajudou bastante para o desenvolvimento da Sara.
O nome Gabriel veio de Soul Love, da Lynda Waterhouse, e minha maior tristeza é que ficaria estranho no português chamá-lo de Gabe. Quando penso nele, sempre lembro um pouco do Pip, de Grandes Esperanças.
Quando introduzi o Rômulo na história, eu estava lendo Hell Paris, da Lolita Pille – que até hoje é um dos meus livros favoritos. É um livro bem decadente, mas ao mesmo tempo poético. E sempre achei que, apesar de não ter sido inspirado diretamente, muita coisa da personalidade do Rômulo tem a ver com o Andrea. Na época eu também assistia muito Skins, o que deve explicar o porquê das coisas terem ficado bem mais loucas lá pelo meio da narrativa.
10. Onde surgiu a ideia de escrever Tudo que Ela Quer? E como foi a experiência e a sensação de ter concluido esse projeto?
Eu postava meu
primeiro romance em uma comunidade no Orkut (desculpa, gente, sou velha!). Quando
a história chegou ao fim, resolvi escrever uma cena de cada projeto que já
tinha e abrir uma enquete para que meus leitores escolhessem qual deles devia
desenvolver. Eu tinha umas quatro ou cinco histórias na fila, então, do nada,
me veio uma cena completamente nova na cabeça.
Ao contrário
das outras, que eu já conhecia personagens, cenários e trama, dessa eu não
tinha nada. Eu tinha uma garota, consolando um garoto depois de saber que o pai
dele tinha morrido. Tinha choro, tinha lágrimas, tinha beijos... e meus
leitores deviam realmente gostar de drama, porque a cena ganhou em disparada em
relação às outras. A garota virou Sara Montezuma, o garoto virou Gabriel Bosi,
e toda a história começou a se desenvolver a partir daí.
Devo ter
demorado uns dois anos para escrever toda a história – isso sem as revisões e
edições – mas lembro perfeitamente do dia que terminei. Era abril de 2010. Eu
tinha passado os últimos quinze dias escrevendo sem parar, só parando pra
dormir, e nossa, como eu chorei. Eu chorava porque conseguia sentir tudo o que
a Sara estava sentindo. Chorava por toda aquela atmosfera agridoce que atinge
você do meio para o fim. Eu senti um alívio incrível, como se tivesse concluído
um dos trabalhos mais importantes do mundo e agora estava livre pra fazer o que
bem entendesse.
Claro que não
era verdade, claro que o trabalho estava apenas começando. E foram muitos anos
pela frente – e serão muitos outros a mais – pra conseguir por um fim a essa
jornada que está sendo Tudo o que ela quer.
Para saber mais sobre a autora - Erika Rossas
Queria agradecer a autora pela disponibilidade e pela entrevista maravilhosa! Daqui a pouco tem resenha do livro dela Tudo o que ela quer. Aguardem :)
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